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Textos de muitos tempos

 

um paquiderme - texto, video, edição e legendagem meus

Para o capítulo PARA VIVERMOS JUNTXS do Livro DUNA.

DUNA | Rafael Limogelli - São Paulo: Editora Patuá, 2018

Para o projeto Letras em Cena da Prefeitura Municipal de São Paulo

Encontro sobre dramaturgia Comício do Amor, articulado pela dramaturga e diretora Carolina Bianchi

Lido pela atriz Fernanda Raquel em Biblioteca Municipal Mário de Andrade

São Paulo/SP - novembro de 2017

vertente 2

 

(this is a fallen angel)

 

- aaahhhhrrrgg.

 

uma criatura acaba de se desprender do subsolo e emergir da lama do mundão.

 

uma horda de gente bem esculpida e lustrada com poliflor puxa o próprio estômago pela boca e se vira literalmente do avesso diante da grande questão de seu umbigo social: Família, literalmente, para quê você serve? Como funciona? Onde vive? Como se reproduz? Família, você já reparou que são os cristãos que estão ocupados com a manutenção e/ou a destruição do conceito de família? Cristão, você já parou pra pensar que toda essa fúria doida, essa exasperação, essa vontade de sumir ou de literalmente puxar a toalha de mesa bordada com pinhas pode (pode) ser porque ainda tem aí uma vontade de existir pra essa entidade?

 

Kennedy e Monroe

 

Berlusconi

 

Collor, PC, Rosane, Claudia Raia

 

Os Cabrais de todos os tempos

 

Ronaldinho, as travestis

 

Monica Lewinski (Uma observação aqui: Fizeram D – N – A da porra que tava no vestido)

 

Lava Jato, Anaconda, Caverna de Platão, de novo Lewinski...

 

A imaginária palestra da Judith Butler

 

O helicóptero de cocaína que poxa, não pousou na minha laje

 

A insustentável tarefa de escutar o outro.

 

Inhotim, Itaú, Itambé, Parmalat e etc.

 

Os dedos nus de um homem deitado. A menina.

 

Todas as pessoas.

Todas as pessoas da parada gay, que loucura

Todas as pessoas da marcha pela família, gente pra quê

Todas as pessoas dos Estados Unidos menos Nova York, porque né

Todos os índios, que são pessoas também, não sei por que escreveram assim separado, desculpa

 

A vizinha, a filha da vizinha, o gatonet da vizinha, a calçada, a calcinha, a falta de calcinha, o meu cu, o seu cu, o cu de Deus, o cu do The Mônio.

 

Centenas de milhares de pessoas de olhos arregalados se perguntando: Porra, mas pode isso Arnaldo?

 

Sexo. Violência. Sexo e Violência. Sexo E Violência.

 

Dinheiro. Luxúria. Família. Propriedade.

 

Família, Dinheiro, Luxúria E Propriedade.

 

Prosperidade, Progresso, Família, Cristandade.

 

Os que tem, os que não tem mas querem ter, os que fazem sem querer, os que não fazem e querem saber, os que não sabem que querem, os que querem o que não sabem, os que querem sem fazer, os que dizem que não fazem mas fazem e dizem que na verdade quem faz é a vizinha, junto com a filha dela, bem debaixo da vista de Deus, do lado do cu do The Mônio.

 

O escândalo

 

é

 

Uma grande festa

de todos os sentidos

borrados, embaralhados, histericamente amalgamados

- e tem sempre um cu no meio, impressionante.

 

É uma pessoa traída, um contrato rasgado bem na frente da cara, picado em pedacinhos e jogado para cima com uma batida de cabelo, real ou imaginária, no caso dos homens brancos e carecas.

É uma fogueira feita com todos os seus brinquedos de criança.

É a própria criança, gritando de horror e gozo quando percebe que para viver, ela vai ter que se partir ao meio.

 

Uma completa implosão dos princípios que regem a existência. Um cogumelo atômico de possibilidades que você nunca concretizou porque não quis, porque não deixaram, porque você não teve a ideia antes, porque não pode, não seria bacana, não é?

 

E tem sempre um sol e uma lua, tem sempre uma pessoa desmembrada, no meio dessas duas forças. Tem sempre um véu caindo.

 

Sempre duas velhas contando uma pra outra daquele sonho muito louco, naquele dia que puseram pra rodar o Côncavos e Convexos do Roberto Carlos.

 

O resultado do escândalo são dois padres que se amam, chorando abraçados a violência do mundo.

 

É você se perguntado o que fazer quando diante do fascismo, a sua reação é a mesma que a daqueles dois padres, abraçados, chorando a violência do mundo. Fechando a portinha do espelho e dando de cara com a sombra, sorrindo e pensando - bem, pelo menos ainda estou aqui.

 

O escândalo, my people, é o diabo pelado cantando essa música:

 

https://www.youtube.com/watch?v=e7qQ6_RV4VQ

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